Uma ideia para a missa
A idade não perdoa. Com a velhice as pessoas tendem a ficar mais moles, esquecidas e mais religiosas.
É o que tem acontecido ao meu pai. Está muito velho, com princípios de refilanço. Está sempre a desligar tomadas e a abrir as janelas para arejar. Velho de um raio. Vem cá a casa e enche-me a cozinha de moscas que vêm pelo cheiro de comida a descongelar do frigorífico.
Porque é perigoso para o meu pai sair de casa ele vê a missa todos os domingos em casa. Escusa de apanhar frio e não tem de estar de pé na missa naquelas partes aborrecidas de dar o dinheiro ou cumprimentar os outros velhos.
Quando chega aquela parte da hóstia, a minha mãe vem da cozinha e traz uma bolacha maria para o meu pai comer.
No outro dia perguntei-lhe se era benzida ou não, e ele disse que achava que sim, porque a minha mãe mete as bolachas numa caixa que foi benzida por um padre ou um curandeiro que conheceu num autocarro.
O dia favorito do meu pai é quando há baptizados e casamentos reais porque em vez de bolacha maria a minha mãe dá-lhe oreo. Ele acha que as bolachas oreo são portuguesas e por isso diz que são as melhores bolachas do mundo, mas se alguém disser que não são portuguesas ele diz que as bolachas são fracas e nem sabe como é que alguém consegue comer daquilo. Está mesmo velho e chato.
Mas a minha ideia era que nas missas em vez de hóstias passassem a dar Chiquilins. Acho que viria muito mais gente, havendo mais alegria nas pessoas. As pessoas todas molhavam as Chiquilins no leite e depois iam rezar. Algumas delas até podiam mesmo tomar o pequeno almoço na igreja e as velhas tinham sempre desculpa para terem os dentes cheios de cáries.
Mas é só uma ideia.